quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dúvidas Cross-Match e Vacinas com linfócitos paternos

Vou colocar abaixo, alguns trechos da entrevista feita pela Folha Online com o Dr Ricardo Barini, selecionei 10 perguntas que achei as mais interessantes ( Desculpem-me mas essa postagem ficou meio comprida, mas achei interessante! rsrsrs ):

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1- Por que existe tanta controvérsia no meio médico em relação a este tratamento? Alguns profissionais desconhecem o tratamento, outros não acreditam em sua eficácia. Qual a razão disso? Existem pesquisas científicas atestando a validade do tratamento? Ou por enquanto os únicos dados existentes se baseiam na observação das pacientes?
Dr. Barini: A imunoterapia tem base científica bem estabelecida. Nas décadas de 70 e 80, pesquisadores do mundo inteiro estavam interessados na interação materno-fetal. Dentre eles, destacaram-se Beer & Bilingham, este último Nobel na medicina por seus serviços. Esses dois autores descreveram os mecanismos de adaptação imunológica na gravidez em animais de experimentação e em seguida em humanos. A partir de observações da resposta imunológica de melhor aceitação dos transplantes em pessoas previamente submetidas a transfusões de sangue, propuseram-se a estudar se este efeito também ocorria na gravidez. Em 1980 nasceu o primeiro menino cuja mãe foi tratada por essa técnica, hoje um estudante de medicina, proposto pelo dr. Beer. Em 1984 foi publicado o primeiro estudo randomizado duplo-cego (um tipo de estudo em que nem o pesquisador nem a pessoa tratada tem conhecimento do tratamento ou não-tratamento que está recebendo) com o tratamento imunológico em mulheres com aborto recorrente, demonstrando sua eficácia. Nos anos que se seguiram, vários outros estudos repetiram essas observações, alguns com resultados semelhantes e outros com resultados inferiores. Houve muito receio ainda pela epidemia da Aids para o uso de transfusões de sangue, em especial de doadores não aparentados.
Em 1999 um grupo de médicos americanos publicou um estudo duplo cego que não confirmou os achados publicados em 84. Por questões políticas, o grupo que publicou esse artigo omitiu o nome do dr. Beer como um dos investigadores desse trabalho, o que gerou protestos pela postura inadequada daquelas pessoas. O projeto não seguiu o desenho de estudo proposto inicialmente, as mulheres não foram reavaliadas se haviam desenvolvido a resposta positiva no crossmatch e obviamente os resultados foram insatisfatórios.
Depois disso, uma revisão dos trabalhos publicados até 2003 mostra que há mais doze publicações de vários países diferentes, atestando a eficácia do tratamento.
Hoje seria, eticamente, difícil de se propor um novo estudo randomizado duplo cego para a terapia imunológica uma vez que há um cem número de centros pelo mundo que realizam a imunoterapia como forma de tratamento reconhecido. A pergunta é qual a mulher (e médico) que se sujeitaria a participar de uma pesquisa em que ela seria aleatoriamente colocada em um grupo com ou sem tratamento, em que nem a paciente nem o pesquisador saberiam em que grupos estariam alocados, quando há uma grande quantidade de dados indicando que o tratamento é eficaz?
Há controvérsia em quase todo tipo de tratamento médico. Alguns provocam mais ou menos alarde, dependendo de múltiplos fatores e interesses envolvidos. Toda nova modalidade terapêutica demora a ser incorporada na prática clínica e é preciso dar um tempo para que os profissionais incorporem a linguagem imunológica na sua atividade clínica. Foi assim com cirurgia, com a hormonioterapia e assim será sempre que algo novo surgir como novidade terapêutica.

2 - Toda mulher que já engravidou deve ter o crossmatch positivo, quando seu sangue é testado com o sangue de seu esposo? Então todas as que têm resultado negativo devem fazer o tratamento?
Dr. Barini: Aquelas que têm resultado negativo e tiveram aborto ou falhas em ciclos de fertilização assistida, devem realizar o tratamento. Toda gravidez normal implica na produção de anticorpos anti-HLA do marido. Esses anticorpos são mais facilmente identificados por técnica de crossmatch por citometria de fluxo, especialmente quando se investigam casais normais. Como lidamos com casais com problemas, a técnica de crossmatch por microlinfocitotoxicidade é suficiente para diagnosticar a dificuldade de se estabelecer essa resposta e para controle do tratamento.

3- No seu site, existe a informação de que o método é utilizado nos casos de falhas sucessivas de FIV. O fato de ter este problema dificulta a implantação dos embriões?
Dr. Barini: Mulheres com falhas de implantação em programas de fiv têm uma reação imune com tendência a produzir uma resposta do tipo ´agressora´ e não ´protetora´ em relação à gravidez. O crossmatch de pacientes que não engravidaram em ciclos de fiv sempre é negativo (elas não foram expostas aos antígenos de seus maridos depois da implantação). O tratamento imune para essas mulheres tem como objetivo mudar o padrão de resposta de ´agressora´ para ´protetora´ (de th1 para th2). O mesmo efeito se consegue com uso de imunoglobulina humana intravenosa, porém a um custo dez vezes maior. Há estudos com drogas anti-TNF que também são muito mais caras, com muitos efeitos colaterais e cuja eficácia não demonstra ser melhor que o tratamento com a imunização com linfócitos.

4 - Então, nas tentativas de gravidez natural, isso também pode acontecer? Ou seja, pode estar havendo a concepção, mas o ovo não consegue se implantar, como nos casos de FIV?
Dr. Barini: Claro. Estima-se que menos de 60% dos folículos fecundados naturalmente cheguem a ser implantados. Isso explica em parte as dificuldades encontradas pelo programas de fertilização in vitro.

5 - Como avaliar se a paciente está respondendo ao tratamento? Um novo crossmatch é a única maneira ou há ´sinais´ que podem ser percebidos por ela?
Dr. Barini: Como a resposta imune é sutil, não há como identificá-la a não ser pelo crossmatch. Estamos trabalhando em uma pesquisa com dosagens de interleucinas (ou linfocinas, substâncias produzidas pelos lifócitos que caracterizam o tipo de resposta imune, se th1=agressora, se th2=protetora). No futuro este tipo de exame poderá indicar se a paciente já está respondendo de maneira mais apropriada para nova gravidez.

6- Qual a razão de, em alguns casos, serem necessárias doses de reforço?
Dr. Barini: A capacidade de responder a um estímulo imunológico depende de características individuais e da potência do estímulo em relação àquele indivíduo. As dificuldades imunológicas se estabelecem por maior semelhança imunológica entre os pares de casais. Quanto maior o índice de ´semelhança´ do casal mais difícil será vencer a barreira imune e provocar uma resposta adequada. Assim a maioria dos casais responde com uma seqüência de duas doses, outros necessitam de maior número de estímulos.

7- Qual a garantia de que as vacinas com as células de outra pessoa não poderão trazer conseqüências graves para quem as toma? Esse doador não pode vir a ter um tipo de problema genético no futuro, não identificado nos exames feitos pelo sr.? E se a pessoa que tomou as vacinas precisar de um transplante de rim no futuro? Ela já não teve suas células alteradas pelas vacinas?
Dr. Barini: O material utilizado na produção das vacinas com leucócitos é feito apenas de células do sistema de defesa (neutrófilos e linfócitos). Essas células são destruídas e removidas do organismo receptor depois de um curto espaço de tempo (menos de seis semanas). Não há porque ter qualquer conseqüência futura que não o estímulo imunológico, em especial alterações do ponto de vista genético. Não se trata de transferência de material que iria modificar geneticamente o indivíduo receptor. Do ponto de vista imune, as modificações que se induz são exatamente as mesmas que ocorrem em uma gravidez normal, em que a mulher é exposta aos antígenos de origem paterna através da placenta. Durante muitos anos as multíparas (mulher com mais que um filho) foram doadoras de soro para classificação do tipo de HLA em bancos de doação de órgãos. As mulheres forneciam soro com anticorpos que elas produziam a partir do contato com antígenos paternos na gravidez para que os bancos de órgãos pudessem identificar os potenciais doadores e receptores de órgãos. A limitação que pode ocorrer para futuros transplantes em que a mulher imunizada seria receptora de órgão é que ela não poderia receber de um doador para quem ela tivesse o crossmatch positivo (seu marido, por exemplo), da mesma maneira que isso aconteceria depois de uma gravidez normal. O que o tratamento faz é exatamente o que a natureza faria. Há que se ter atenção com a sensibilização para o fator RH. Sempre que a mulher tiver tipo sangüíneo RH negativo e o marido (ou o doador) for RH positivo, ela deve receber uma vacina anti-RH (rhogam, matehrgan ou prartogama) em cada imunização com leucócitos do parceiro ou de doador RH positivo. Vale lembrar que o tratamento não modifica nossas células de forma nenhuma, apenas induz uma mudança na resposta imune específica para a gravidez.

8 - Por que na grande maioria dos casais, ou na maioria, o exame dá negativo? Há casais que sem tomar as vacinas têm seus filhos normalmente e por outro lado, casais que mesmo após terem positivado e terem sido considerados prontos para engravidar, acabam abortando do mesmo jeito?
Dr. Barini: 15% dos casais que vemos com aborto recorrente têm o crossmatch positivo e, portanto não se enquadram no problema imunológico. Esse dado foi publicado em maio de 1998 na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Os casais que tomam a vacina e abortam mesmo assim são portadores de algum outro fator associado que leva à interrupção da gravidez. Entre 15 a 20% das gestações se perdem ao acaso por problemas genéticos ou de desenvolvimento embrionário. Sempre solicito o exame de cariótipo fetal nos casos de aborto para comprovar essa possibilidade.

9 - Qual o motivo do elevado custo das vacinas?
Dr. Barini: O material utilizado na separação dos leucócitos é caro e tem seu custo indexado em dólar por ser importado. Todo material utilizado durante a preparação das vacinas é descartável para se evitar qualquer tipo de contaminação. O trabalho de produção é completamente artesanal, sendo realizado por biólogos e técnicos altamente especializados. Cada vacina é preparada cuidadosamente. Como não se trata de linha de montagem realizada por equipamentos ou máquinas que trabalham automaticamente, isso eleva os custos finais.

10- As crianças nascidas após as vacinas ainda têm baixo peso?
Dr. Barini: Há uma incidência de 3% a mais de baixo peso nas pacientes tratadas de alterações imunológicas, sejam autoimunes (tratadas com medicações) ou aloimunes (tratadas com as vacinas). Não há como se definir se o efeito é do tratamento ou se as mulheres já possuem algum fator extra que facilite o baixo peso. Mas um controle do desenvolvimento fetal é capaz de identificar e solucionar esse problema sem prejuízo para o bebê."


2 comentários:

  1. Fiz o tratamento, tomei as 3 primeiras vacinas e no mes seguinte estava grávida, ja tinha perdido um bebe e feiti 2 fertilizacoes in vitro, e hoje estou no 8o. mes esperando minha menininha, nos exames só apareceu o cross match negativo. Não tem como ter dúvidas que o tratamento funciona!

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  2. Fiz as 3 vacinas, e 2 meses depois estava gravida, mas abortei com 5 semanas pela terceira vez. Agora estou gravida de novo, de 5 semanas. Nao fiz reforco ainda, pois estou de repouso. Meu cariotipo eh normal. Estou na esperanca que de certo agora!

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